Na viragem do milénio, fui à Índia a convite da minha irmã. Sem expectativa e sem planeamento, foi uma viagem transformadora.
Ao sair do avião, tantas coisas diferentes da minha realidade, parecia mais que estava noutro planeta.
Tive momentos de forte sentimento de priveligiado, quando em Portugal tinha um carro velho, uma aparelhagem e mais algumas coisas, parece que já tinha mais bens materiais do que se calhar algumas pessoas iriam ter na sua vida. Não foi um sentimento bom.
Umas das coisas que na altura também me marcou, foi o comércio local. Em cada loja normalmente tinha mais uma família inteira do que um funcionário na loja. Eu na altura estava como gerente de uma loja de informática, ser lojista era algo do meu interesse.
Em muitos estabelecimentos, ofereciam-nos algo para beber e sempre muita atenção. É normal claro que nunca passei tanto calor como lá, mas lembro-me de pensar que se calhar deveria ser mais hospitaleiro na loja que geria também. Quando voltei, chateei o meu patrão a comprar um frigorífico e a ter sempre bebidas na loja.
Não há nada como vermos outras perspectivas de vida, para dar mais significado à nossa própria. Também nos negócios isto faz sentido, por vezes até aproveitando boas práticas de um lado para o outro.
Eu sempre tive uma relação muito emocional com o dinheiro e entendo quem não tenha. Com o passar dos anos, entendo também que é preciso clareza em relação ao dinheiro e aos bens materiais.
Desde cedo que vendi material informático, acessórios e mais tarde serviços, e continuo a vender, as vendas de uma ou outra maneira já fazem parte da minha vida. Tenho um respeito profundo por quem me “dá” dinheiro. Foram pessoas que ajudaram-me pessoalmente, que me ajudaram a crescer como profissional, possibilitaram desenvolver a minha família e a criar o meu filho, sem mencionar sustentar um número infindável de gatos e nesse sentido não tenho como ignorar uma carga emocional ao dinheiro.
Por outro lado, entendo que o dinheiro não tem sentimentos, não tem justiça, nem sempre está bem distribuído e as pessoas roubam e matam por pouco ou muito dinheiro.
Vender é servir, e servir pode ser feito com emoção ou com razão. Para mim é ainda melhor com ambos.